Demografia e natalidade

Um estudo da revista "The Lance" em que se refere que 
"Portugal poderá chegar a 2100 com cinco milhões de habitantes"
Teve eco na comunição Social portuguesa, nomeadamente:


O tema da demografia não é novo e é recorrente, sendo exemplo alguns artigos do passado: 


Assim parece-me fazer sentido pensar um pouco sobre isto. E sobre 2 perspectivas diferentes.

Será antes de mais de desmistificar algo: 
ver os números da nossa população baixar (o número de pessoas que reside em Portugal ficar menor), do ponto de vista global não é algo necessariamente mau. Vejamos, todos teremos já ouvido falar da pressão sobre o ambiente no que concerne por um lado à exploração e consumo de recursos, e por outro à quantidade de poluição que resulta, de forma directa ou indirecta, da actividade humana. 

Podemos (e devemos) reeducar as pessoas, repensar a sociedade e alterar o nosso modo de vida para um estilo de vida mais sustentável, mas neste ponto a matemática é simples: se tivermos 2 conjuntos de pessoas com os mesmos hábitos, mas de tamanhos diferentes, naturalmente o grupo com mais elementos vai consumir mais recursos e poluir mais que o grupo menor. 
E conseguimos ver nós algum caso extremo deste raciocínio? Sim, não foi por acaso que à alguns anos a China implementou a politica de filho único – o sobrepovoamento é mesmo um problema maior que uma redução do número de elementos de uma população. 
Faz igualmente sentido desmistificar o tema da sustentabilidade da segurança social: é real que ter menos adultos activos a descontar para uma dada população idosa causa mais pressão sobre o sistema, mas estamos apenas perante um reajuste dos números das percentagens de cada faixa etária na população (há efectivamente um redesenhar da pirâmide etária); contudo o que teremos é um novo equilíbrio, que quando atingido tenderá a manter-se; ou seja, o número total de elementos da população varia, mas a percentagem de cada faixa etária (nº de idosos por adulto activo) tenderá a manter-se.


Ora, mas então e qual o problema deste raciocínio? 
Leva-nos à 2ª perspectiva que quero abordar.
Vou-me limitar à realidade que conheço, mas em Portugal já há e já se faz planeamento familiar à muito, e a questão é que a maioria das pessoas quer ter filhos (e refiro-me a mais de um).
Seja adoptando, seja gerando-os biologicamente.
Seja na visão mais clássica de agregado familiar, seja nas mais diferentes variantes.
As pessoas querem ter filhos e cria-los com boas condições, sendo que esta definição de “boas condições” variará com o nível de exigência, ainda assim há coisas que se percebem bem. 
Do ponto de vista “macro” provavelmente tal significará pouco, mas do ponto de vista pessoal, cada português não deve ser apenas “um número”, e eliminar ou reduzir esta limitação deveria ser uma preocupação – não se trata de um detalhe, é uma escolha marcante para as pessoas, é que como dizia, o que se assiste em Portugal é ao limitar da natalidade pela falta de condições e não simplesmente a uma  opção de vida, que se seguiu sem condicionantes.

Falando nesta preocupação, e pensando em Portugal é usual apontar algumas limitações:
- salários, e consequentemente um nível de vida, baixos
- licenças de maternidade de pouca duração 
- uma baixa sensibilidade social (e mais do que legislação, falo de mentalidade) para a importância do apoio à família; 


Ainda assim, creio que a maior dificuldade tem a ver com o fato de as pessoas terem dificuldades em arranjar (e pagar a quem) lhes fique com os filhos quando em idades menores.
Existem algumas cresces que acolhem crianças, e com um critério de escolha –plausível - de cobrar menos a quem tem maiores dificuldades financeiras. O problema é que a oferta (lugares de cresce) é “curta”, e portanto basta não estar numa situação tão má (bastam dois pais a ganhar um salário mínimo ou pouco mais) para que ou a factura cresça consideravelmente, ou nem haja lugares disponíveis para a(s) criança(s). 
No privado há diferentes ofertas que variam com a zona do país em que vivemos, mas na zona da grande Lisboa facilmente se ultrapassam valores que são (sobretudo quando comparamos ao ordenado mínimo nacional) muito significativos. Pasme-se: é muitas vezes mais barato ter um filho na faculdade do que na cresce.

Mais do que números, queremos os portugueses felizes e realizados? Ter filhos faz parte do “plano de vida” que a maioria deseja. 
Queremos combater a baixa natalidade? Crie-se uma rede de cresces/externatos sob a égide estatal, gratuitas para todos e a funcionar 12 meses/ano.
Querer (ou não) ter filhos é diferente de não ter condições para tal.